terça-feira, 23 de março de 2021

O Erro de Descartes

O Erro de Descartes, Emoção, Razão e Cérebro humano é um livro de 1994 pelo neurologista António Damásio.[1]

O livro lida com a teoria do dualismo mente/corpo proposto por René Descartes, retratando com detalhes neuroanatómicos o modo de funcionamento da mente. O erro de Descartes, segundo Damásio, terá sido a não apreciação de que o cérebro não foi apenas criado por cima do corpo, mas também a partir dele e junto com ele.[2]

Best-seller, vendeu 100 mil exemplares no seu primeiro ano de lançamento.[3]

  1.  «O Erro de Descartes, António Damásio - WOOK». Consultado em 16 de maio de 2013
  2.  «Review of Damasio, Descartes' Error». Consultado em 16 de maio de 2013
  3.  Revista E n.º 2348 (28 de Outubro de 2017), pág. 28.






O Erro de Descartes


Penso, logo existo. Esta afirmação talvez a mais famosa da história da filosofia, ilustra exatamente o oposto do que o autor deste livro propõe e desenvolve em suas páginas. A frase de Descartes sugere que pensar define o ser humano. E como sabemos que o filósofo Francês concebia o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, sua definição estabelece um abismo entre mente e corpo. Para contestar Descartes – e todas as consequências dualistas de sua afirmação – António Damásio não recorre a filigranas escolásticas ou sutilezas metafísicas, mas ao seu conhecimento de pacientes neurológicos afetados por danos cerebrais.

Escrito com clareza e graça, O erro de Descartes é uma viagem fascinante ao interior de nosso cérebro que começa na metade do século XIX com a história de Phineas Gage, o capataz da construção civil que sofreu, segundo um jornal da época, um “acidente maravilhoso”: seu cérebro foi trespassado por uma barra de ferro de um metro de comprimento e três centímetros de diâmetro e ele não morreu. Mas as posteriores mudanças de comportamento e suas consequências desastrosas para a vida prática de Gage e de outros pacientes que sofreram danos semelhantes abrem as portas parar a investigação de um campo quase inexplorado pela ciência: as relações entre razão e sentimento, emoções e comportamento social. Na visão inovadora de Damásio, sentimentos e emoções são uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo essencial entre o corpo e a consciência. Em suma, uma pessoa incapaz de sentir pode até ter o conhecimento racional de alguma coisa, mas será incapaz de tomar decisões com base nessa racionalidade.

Ao tirar o espírito de seu pedestal e colocá-lo dentro de um organismo que possui cérebro e corpo totalmente integrados, o autor sublinha a complexidade, a finitude e a singularidade que caracterizam o ser humano. Reconhecer a origem humilde e a vulnerabilidade do espírito e, ao mesmo tempo, continuar a recorrer à sua orientação é tarefa difícil, mas indispensável. O ponto de partida da ciência e da filosofia deve ser anticartesiano: existo (e sinto), logo penso.

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