Você já ouviu a fábula a Águia e a Galinha? Essa é uma história incrível e que pode nos ensinar muita coisa. Principalmente se a gente tentar entendê-la por uma ótica mais psicanalítica.
E neste artigo, nós queremos conversar um pouco mais sobre isso. Mas antes de começarmos, precisamos explicar de forma bem rápida o conceito de fábula para você que talvez não conheça.
Mas continue comigo, que logo em seguida vamos iniciar a discussão trazendo uma breve definição sobre esse gênero textual, que muitas vezes também é chamado de parábola. Vamos lá?
O que é uma fábula?
A fábula é uma composição literária em que os personagens são animais, mas com uma característica em particular: esses animais tem uma forma humana. Ou seja, falam, se vestem e tem costumes humanos.
Na grande maiores das vezes o público dessas histórias é composto por crianças, até porque são em sua maioria histórias infantis. Mas também é muito característico desse gênero literário terminar com um ensinamento moral muito forte.
Resumindo, trata-se de uma narrativa em prosa ou poema épico breve, mas que tem em especial um caráter moralizante. Além de animais, pode ser protagonizado por plantas ou até objetos inanimados.
Sua estrutura é composta por uma parte narrativa e uma breve conclusão moralizadora. Nessa conclusão, os animais se tornam exemplos para o ser humano, sugerindo uma verdade ou reflexão de moral.
Origem
Esse gênero tem sua origem no Oriente, isto é, um lugar onde existe uma vasta tradição de fábulas famosas. Depois passa para a Grécia, onde foi cultivada por Hesíodo, Arquíloco e, sobretudo, Esopo
Lembre-se que neste período o gênero ainda pertencia à tradição oral. Foi apenas com os romanos, especialmente Fedro, que a fábula foi inserida na literatura escrita.
Voltando aos personagens, cada animal na fábula simboliza algum aspeto ou qualidade do homem. Por exemplo:
- o leão representa a força;
- a raposa, a astúcia;
- a formiga, o trabalho.
A fábula, consequentemente, é uma narrativa com fundo didático. Quando os personagens são seres inanimados, forças da natureza ou objetos, a narrativa recebe o nome de apólogo. Esta é diferente da fábula.
Geralmente, as fábulas são transmitidas pelos pais, professores. Até mesmo políticos e figuras públicas podem ser a fonte da transmissão. Além disso, elas estão em livros, peças de teatro, filmes, entre outras formas de comunicação.
A águia e a galinha
Agora vamos falar sobre a fábula a Águia e a Galinha. Trata-se de uma história com origem em um pequeno país da África Ocidental: Gana.
Ela foi narrada originalmente por um educador popular, James Aggrey, nos inícios deste século.
Isso aconteceu durante os embates pela descolonização. Ele conta assim:
Princípio
“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro, a fim de mantê-lo cativo em casa. Conseguiu pegar um filhote de águia e o colocou no galinheiro junto às galinhas.
Cresceu como uma galinha.
Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista.
Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
– Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.
– De fato, disse o homem. É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais águia. É uma galinha como as outras.
– Não, retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
– Não, insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova.
A primeira prova
O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e, desafiando-a, disse:
– Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia ficou sentada sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos e pulou para junto delas.
O camponês comentou: eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não, tornou a insistir o naturalista.
– Ela é uma águia. E uma águia sempre será uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
A segunda prova
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa e sussurrou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas, quando a águia viu lá embaixo as galinhas ciscando o chão, pulou e foi parar junto delas.
O camponês sorriu e voltou a carga: eu havia lhe dito, ela virou galinha!
– Não! respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia e possui sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
A terceira prova
No dia seguinte, o naturalista e o camponês se levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para o alto de uma montanha. O sol estava nascendo e dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia, como se experimentasse nova vida. Mas não voou.
Então, o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, de sorte que seus olhos pudessem se encher de claridade e ganhar as dimensões do vasto horizonte.
Foi quando ela abriu suas potentes asas. Ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto e voar cada vez mais para o alto.
Voou……. e nunca mais retornou.”
E essa história foi extraída do artigo publicado pela Folha de São Paulo, por Leonardo Boff. Ele é teólogo, escritor e professor de ética da UERJ. Além disso, é um autor consagrado pelas suas obras publicadas. No seu livro A Águia e a Galinha, define muito bem o lado águia e galinha do ser humano.
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